novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......
convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

REAL - CORTÁZAR - CASA TOMADA OU MENTE TOMADA?


Este é um artigo muito antigo, que apresentei em um congresso... nem sabia que ia sair em uma revista virtual de uma faculdade. Mas saiu... se eu soubesse teria melhorado o artigo.
Vejam em http://apps.unibrasil.com.br/revista/index.php/educacaoehumanidades/article/viewFile/240/190

foto-montagem: retirei do site somostodosum

IMAGENS - e textos que falam por si...



repetindo:  P.S. Ainda mais quando é por alguém que vale a pena.... (REAL E VERDADEIRO).

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

FICÇÃO - IMPOSTORES


Acordou. Olhou para o lado e viu um homem igual a seu marido, mas que não era seu marido.


Levantou bem devagar para não acordá-lo e foi para a cozinha chamar a polícia. Os filhos a ouviram e levantaram também. Assim que entraram na cozinha ela deu um grito e pegou a faca, os ameaçando caso se aproximassem dela.


A polícia chegou quando ela ameaçava o marido e os filhos, gritando que os queria de volta. Que era para eles devolverem à ela sua família.


Conseguiram desarmá-la e uma ambulância veio para sedá-la e levá-la ao hospital.


Lá, o médico a examinou e disse que estava com Síndrome de Capgras, ou seja, quando as capacidades conscientes de reconhecimento operam corretamente mas há um dano na sua habilidade emocional de reconhecer pessoas. Assim ela tem a sensação de reconhecer seus parentes, mas acha que “algo não está certo”, que está “faltando alguma coisa”. A mulher reconhecia os traços físicos e psicológicos do marido e dos filhos, mas afirmava que eram impostores! Não era o parente, mas uma cópia, um sósia.


Depois de dias de tratamento, ela continuava dizendo a todos que aquele não era seu marido, aqueles não eram seus filhos. Que foram substituídos por algo ou alguém. Foi levada para casa.


No quarto, deitada e sedada, adormeceu.


Na sala, o marido e os filhos sussurravam junto com o médico, retirando as suas peles: “temos que convencer a todos de que ela está com a Síndrome de Capgras”.


terça-feira, 20 de outubro de 2009

FICÇÃO - M



Endaira lhe mostrou, em sonho, o caminho que deveria seguir. Mas acordou e os contornos e a imanência dos simulacros esfumaçaram-se. Permaneceu apenas um viscoso fiozinho de lembrança, mas não identificável: palavra na ponta da língua que não se mostra.


Não suportando a clausura da casa, sai ansioso pelo ar fresco das ruas. Novamente andarilho, vagando por ruas incertas. Um voyeur, um flâneur? Oh francês! Língua da poesia! Se mutaciona de um Baudelaire, para um Cesario Verde, ou um Italo Calvino ou até um brasileiríssimo Dalton Trevisan. O labirinto-cidade existe em todas as línguas. Francês, português, italiano, alemão... as palavras de Benjamin sempre surgem quando vai caminhar por ruas desconhecidas: “Saber orientar-se numa cidade não significa muito. No entanto, perder-se numa cidade, como alguém se perde numa floresta, requer instrução. Nesse caso, o nome das ruas deve soar para aquele que se perde como o estalar do graveto seco ao ser pisado, e as vielas do centro da cidade devem refletir as horas do dia tão nitidamente quanto um desfiladeiro. Essa arte aprendi tardiamente; ela tornou real o sonho cujos labirintos nos mata-borrões de meus cadernos foram os primeiros vestígios...”


Caminhar e caminhar. Os passos vão sozinhos, um seguindo o outro, automatizados. O olhar se deixa seduzir pelas imagens. Seguindo o conselho do velho amigo cronópio levou a máquina fotográfica, pois “entre as muitas maneiras de se combater o nada, uma das melhores é tirar fotografias, atividade que deveria ser ensinada desde muito cedo às crianças, pois exige disciplina, educação estética, bom, olho e dedos seguros”, uma vez J.C. disse isso.


Como o destino, desenhado na palma da mão pelas linhas tortas dele, os pés iam, atentos e distraídos, críticos e cúmplices, acompanhando o olhar. Aos poucos percebe um fio que vai se desenhando à sua frente. Segue-o, da rachadura da calçada, para o fio de óleo na rua, a hera que se espalha pelo muro, os encaixes das pedras nas ruínas de São Francisco, um fio de tinta vermelha que escorre da parede recém-pintada...


Clic-clic, essa necessidade de fotografar, de passar uma lâmina fina e ficar com a fatia de tempoespaço congelada, para sempre, até que a luz natural vá roubando cada imagem, devolvendo-a ao espaçotempo da natureza. No fim, nada perdido, nada criado, tudo transformado. Sentiu-se transformado também. Do fio mental do cartaz do poste, seu fio de pensamento foi-se embora ao sabor do vento e das lembranças.


Um pedaço de lã azul saído de um pequeno novelo, jogado no saco de lixo que foi aberto pelo cão buscando comida. O fio arrebentado do “gancho” do telefone público. A rachadura na vitrine da loja escancara o vandalismo despedaçado, a casa rachada mostra vidas em ruínas, os fios de sujeira e pó do túmulo abandonado: vidas em decomposição.


Os fios vão se amontoando e aos poucos ele percebe que a clausura da casa também está na rua. Sufocante. A cidade é gaiola, túmulo, claustro, prisão, boqueirão e becos. A cidade é espetáculo vencido, sem espectadores, sem público,


sem privado,


                        com


                               privadas,


                                                ar estagnado,

                                                                          vidas paralisadas,


                                                                                                          cativeiro alquebrado,


                                                            boqueirão nauseabundo


                           becos enegrecidos,   

fios que se enoseiam ao seu redor, o sufocam, prendem-no, cerram os brônquios asmáticos, sugam seu colorido. Seguindo o fio com o olhar percebe que ele termina em sua mão. Ou iniciou-se dela? Endaira mostrou a saída. Corpo inerte, livre do labirinto vivo. Quiçás pertencendo agora a outro labirinto. Caminhante, não há caminho. O caminho se des faz ao andar!
(foto by Susan - ver flickr susanblum63)

FICÇÃO - DESDOBRAMENTO


O corpo inflando como balão, a língua inchando dentro da boca, o corpo flutuando e o teto do quarto se aproximando. Horror, medo e a queda abrupta ao corpo na cama... sempre a mesma coisa.


Desde pequeno a mesma sensação: ao ir dormir, a língua fica “gorda” e o corpo infla. O medo, o retorno. Não consegue dormir direito. Quando comentou isso com os pais, a mãe, religiosa, ficou rezando apavorada, achando que algum demônio estava querendo roubar seu filho precioso. O pai, um pouco místico, mas não religioso, leva o filho a uma Associação gnóstica.


O instrutor lhe explica que o nome disso é desdobramento astral, que a psique do menino sai do corpo para ter novas experiências. Mas que ele não precisa se preocupar em se perder, pois há um fio chamado antakarana (ou cordão de prata) que liga a psique ao corpo. É este fio que a Morte corta com a foice. Diz que o desdobramento é bom e que todos fazem isso, mas alguns tem consciência e outros não. O menino explica que tem medo de bater no teto e se machucar. Por mais que o instrutor diga que isso não vai acontecer, ele tem medo. Por fim, o instrutor tem uma idéia: diz ao pai do garoto para deixar uma fresta aberta na janela e diz ao menino para sair por ali. O menino resolve experimentar.


Naquela noite o pai deixa uma frestinha na janela e o menino, ao sair do corpo passa por ali. Nem sequer questiona o fato de seu corpo grande, apesar de infantil, conseguir passar por um espaço tão minúsculo. Está feliz de estar flutuando, ainda com um pouco de receio, mas feliz, pois sempre gostou de sonhar que voava.


Planava feliz vendo a cidade, as pessoas, quando resolve ir até a chácara do avô. Mas de repente sente uma forte atração... seu corpo está sendo puxado por algo... energia, atração irresistível... flutua agora tão rapidamente e sem controle, que nem tem tempo de perceber que são os fios de alta tensão dos altos postes. Essa energia atrai seu corpo astral e ele não consegue resistir.


Manhã cedo, o pai se levanta feliz para ver se deu certo a experiência com o filho. Encontra sua esposa abraçada ao corpo frio do filho dizendo:


_ O demônio conseguiu levar meu menino!

(pintura de Chagall)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

FICÇÃO - SÍLFIDE



Serpente venenosa, a fumaça do cigarro ia subindo. As imagens das antigas namoradas vinham como a fumaça, em névoa fantasmagórica. Agora sozinho, sem ninguém... só agora, de velho, percebe que seu jeito afastou todas as pessoas que o amavam e as poucas que ele realmente amou.


Sua visão também estava ficando turva, os olhos vermelhos – apesar de fumar há anos eles sempre se irritavam com a fumaça – e seu olhar brumoso vislumbra na fumaça um rosto. Encafifado, força a visão e começa a delinear um rosto feminino...


Sim... a fumaça do cigarro está desenhando um rosto feminino... perfeito, olhos, nariz, boca... pensa em chamar a empregada para também ver isso... mas a fumaça é muito etérea e qualquer movimento mínimo já desfaz por milésimos de segundos o rosto perfeito... ele se força a ficar com a mão parada, imóvel. Quase sem respirar, pois também a respiração atrapalha a figura feminina...


Ela parece estar abrindo a boca para falar...


Mas o cigarro está no fim e ele se esforça por ouvir o que ela fala... antes que se apague...


O que ela diz?


Sílfide?


Só fode?


Só pode! Só pode estar dizendo isso... que eu sempre me fodo!


E a imagem desvanesce-se por completo... ele pensa ouvir um riso daquela boca sensual que lhe dizia algo...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ENTREVISTA - TEZZA (para ONG Leia Brasil)


Cristovão Tezza

conversa com Susan Blum

Cristovão Tezza, escritor curitibano, nascido em Santa Catarina. Professor na Universidade Federal do Paraná e pai de dois filhos. Escreveu diversas obras, algumas delas premiadas, como O fotógrafo, que ganhou o Prêmio revista Bravo, melhor obra de 2004. Breve espaço entre cor e sombra, prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Juliano Pavolini, A suavidade do vento, Trapo, Ensaio da Paixão, e outras obras, inclusive não-ficcionais.


Cristovão, vamos conversar um pouco sobre literatura, sobre o processo de escrever e sobre seu último livro O filho eterno. Este livro, para quem não sabe, apresenta a incapacidade que temos de lidar com o “imperfeito”. Nele o protagonista, um homem que busca ser escritor, tem um filho com síndrome de Down e passa por diversas situações com seus medos, inseguranças e receios, até conviver de forma pacífica com a situação. Assim como o protagonista, o autor também tem um filho com síndrome de Down, que inclusive participou do lançamento do livro em um bar de Curitiba, apresentando suas pinturas e desenhos. O próprio autor dizia: “peguei carona na exposição de Felipe. Ele que é o dono da festa”.

Apesar do livro ser considerado autobiográfico, você já insinua na abertura do livro a frase de Thomas Bernhard sobre a verdade. (“Queremos dizer a verdade e, no entanto, não dizemos a verdade. Descrevemos algo buscando fidelidade à verdade e, no entanto, o descrito é outra coisa que não a verdade”). Isso é indicação do processo criativo real/ficção (fingimento) ou do fato dos acontecimentos passarem pelo filtro da memória que selecionam/modificam, de acordo com os desejos ou as culpas?

Cristovão Tezza - A biografia é o material de que foi feito o romance; é preciso ter em mente essa distinção. Os objetivos de uma autobiografia e de um romance são substancialmente diferentes. A citação de Bernhard lembra que, em qualquer caso, a idéia de “verdade” é inalcançável, porque ela é mediada pela limitação e pelo recorte do olhar. Mas a diferença de intenção, a diferença de objetivos em um caso e outro é altamente significativa. O texto biográfico ou autobiográfico parte de uma pressuposição de verdade factual; um acordo tácito se firma quando abrimos uma “biografia”. Sabemos que, fatalmente, haverá “falhas”, mas isso fará parte involuntária do jogo intencional biográfico. Já o romance é uma “experiência do olhar” que toma um material da imaginação (biográfico ou não) como ponto de partida. Na biografia, os fatos são o ponto de chegada; no romance, são o ponto de partida.

Alguns alunos de pós-graduação estão pensando em escrever dissertações ou teses, aproveitando o seu livro como indicador do processo de formação de um escritor quando jovem. No livro você dá algumas indicações deste processo, como no poema antigo, enviado ao irmão e sua reflexão dele (p. 50/51); ou quando fala de seu livro sendo escrito, cujo personagem levita, que não tem um fio narrativo, que não sabe o que está escrevendo (p. 101); ou ainda quando cita as diversas recusas da editoras que vai acumulando na gaveta, ou a escrita deTrapo (p. 115); e assim por diante. Pretendem fazer um paralelo de suas obras com os momentos vividos por você. O que acha disso? Que conselho ou alerta daria a eles?

CT - Conselho, não dou nenhum... (risos). É muita responsabilidade! O tema da formação do escritor me interessa muito, e apareceu perifericamente em “O filho eterno”, na medida em que o fato de o pai ser escritor interfere na natureza da relação entre eles. Em alguns livros meus esse tema surgiu aqui e ali, e eu pretendo ainda voltar a ele, aí sim, com objetivo biográfico e ensaístico – a não-ficção falando da ficção. Eu acho que é um material interessante de investigação. Mas o autor é sempre suspeito quando fala em causa própria.

Quando recebeu a notícia da síndrome de Down de Felipe, disse que “não queria abrir a porta” (p. 33), quando, durante todo o processo posterior, você acha que a porta foi aberta e a aceitação veio? Você acha que o livro foi uma expiação da culpa? Geralmente a escrita está associada à catarse. Você se sentiu mais aliviado ou teve mais medo, ao se abrir de forma tão escancarada para o mundo?

CT - A idéia de “catarse” é tentadora; na verdade, tranqüilizadora. Eu prefiro não entender meu livro como um gesto catártico, isto é, algo que se realizou pela expiação, ou pela liberação das “forças sombrias” que afinal todos têm um pouco na alma. Pelo contrário, acho que ele foi a realização de um certo estado de maturidade emocional depois de viver, anos a fio, aí sim, instantes catárticos (irracionais, passionais, como vários que aparecem no livro). Isto é, o ato de transformar a biografia em romance me salvou da simples exposição catártica. Veja por exemplo a relação do narrador com o seu período de vida no teatro, e como ele disseca a natureza daquela “catarse artística”, do projeto liberador que marcou sua juventude. A narração de certa forma “desmonta” aqueles pressupostos. Mas, é claro, como prosa romanesca há momentos muito fortes – mas eles são a arte da representação, algo refratado, não o “sentimento em si”. “O filho eterno”, por incrível que pareça, é um livro racionalizante do começo ao fim (ainda que perturbado o tempo todo pela força das emoções).

Aliás, retornando à questão acima, sobre abrir a porta, em seu livro há várias referências a isso, esse abrir portas, desde o hospital em Frankfurt, com a tentativa de abrir a porta para dentro e não para fora (p. 126); Felipe tentando abrir uma porta (p. 123), e outras relações. Essa é uma metáfora do não desistir ou da criatividade que temos que obter para ver as coisas de uma forma diferente, não teimosa e obtusa?

CT - Esses “signos” que aparecem no livro – como o da porta fechada – são todos intuitivos. Sou um escritor bastante instintivo. O livro vai e vem no tempo, e essas amarras foram feitas mais ou menos no próprio impulso da escrita, “ganchos” para submeter todos os tempos da memória ao olhar organizador do narrador. Eu não tinha, digamos, “um objetivo em mente” senão reviver a experiência em si. E não sei que mecanismo estranho nos leva a escolhar e marcar algumas cenas e esquecer ou passar ao largo de outras.

Você acredita que algo mudou dentro de você? Aquela sua falta de jeito com o amor e o afeto foi modificado pelo jeito amoroso e de doação completa de Felipe? Ou então sua obstinação em não desistir das coisas, ou aceitar as coisas como são... enfim, algo se transformou dentro de você? Porque em vários momentos você coloca que o problema é o pai e não o filho, que o pai é mais inseguro que o filho, que o pai é mais teimoso que o filho, que é dependente do filho (quando de seu sumiço)...

CT - Veja bem: eu sou o Cristovão; o narrador do livro é um sujeito sem nome que se concentra e se define inteiro em 200 páginas; só sabemos dele o que está escrito ali, e tudo é muito forte e intenso, de um modo que nenhuma pessoa real conseguiria ser (ou morreríamos todos no terceiro dia!). Vamos, pois, falar de literatura. Sim, há visivelmente uma passagem entre o primeiro momento da narrativa e a última, uma transformação na relação dele com o mundo e com as pessoas, e essa passagem é sistematicamente marcada pela sua relação com o filho; mas, de certo modo, parece, ele continua o mesmo. O que vai havendo é uma lapidação pelo tempo, pela experiência e pelo contato pelos outros. Veja que o personagem, na última frase do livro, não tem nenhuma idéia do que vai acontecer, e ele acha isso bom. No começo ele também não tinha nenhuma idéia, e achava bom. (Não sei se estou certo – isso me ocorreu agora...)

O fato de Felipe ser bom em algo foi uma “fuga” para você, como o era a escrita e a literatura? Foi um alívio saber que ele era bom em alguma coisa? Ou agora isto não faz mais diferença?

CT - Vou ser chato, mas quero me separar de novo do personagem. O livro marca bem a importância, para o pai, de o filho pintar e fazer disso um trabalho pessoal original. No romance, isso ganha uma importância destacada, é um “momento narrativo” marcante, com uma função significativa na história. É um recorte. Mas na vida as coisas são muito mais lentas e difusas; para um pai, saber da competência do filho em alguma coisa é sempre importante, seja a criança especial ou não.

Já que estamos falando das imagens de Felipe. Percebe-se claramente em suas obras a influência do olhar, o imagético em sua escrita. Essa influência veio daquela experiência (citada no livro) de você com 16 anos e confessando ao seu guru que não entendia nada de pintura? Ou ela veio de algo já existente dentro de você? E a fotografia? Quando surgiu?

CT - Sim, costumo dizer que só escrevo o que eu vejo – a minha frase é antes um olhar que uma reflexão. É verdade que a descoberta da pintura na adolescência foi muito importante para mim, mas desde criança sempre gostei muito de desenho, de cinema e de fotografia. Tudo relacionado à imagem despertava minha curiosidade. Passei a vida brincando com fotografia, embora nunca tenha mergulhado profissionalmente nela.

No livro, você demonstrou preocupação com o fato do Felipe jamais ser capaz de ler e entender uma frase simples. Você trabalha leitura e escrita com universitários. Como sente esta questão? Os universitários sabem ler (interpretar) e escrever?

CT - A categoria “universitários” é ampla demais! Depende do curso, depende da seleção, depende do vestibular, depende do segundo grau, depende da turma, depende da universidade. Toda generalização nessa área cai na frase-feita ou no chute. A minha experiência como professor é limitada para generalizar. Digamos que na área de Letras e de Comunicação, que conheço mais de perto, há alguns “bolsões” carentes no domínio da escrita. Chutando, diria que 30% dos alunos têm um domínio de língua padrão escrita abaixo do padrão desejável.

Como escritor, considera que os brasileiros estão lendo mais? Com mais qualidade? O que sugere para que se mude esse quadro?

CT - Essa é outra área que precisa ser objetivamente mensurada. Vai um dado puramente estatístico: um best-seller, poucos anos atrás, vendia no seu limite máximo 100 mil exemplares no Brasil. Hoje esse teto subiu para 400 mil. Isto é, há mais gente lendo sim, e a própria vitalidade das editoras brasileiras (além do fato de que as estrangeiras pela primeira vez começam a investir aqui) indica isso. É claro que ainda é muito pouco, e com algumas características importantes – livros de não-ficção vendem muitíssimo mais que os de ficção. A literatura está proporcionalmente perdendo terreno, o que é um fenômeno mundial. E também uma pena, porque ela é a linguagem da imaginação e da transformação por excelência. Para mudar esso quadro? Não tem muito mistério: investimento maciço em creches, escolas, alfabetização, bibliotecas... Tudo que faça a palavra escrita realmente circular.

O final de seu romance mostra a questão do inacabado contra todos os pesos, obstáculos, quase desistências, irritabilidades, inexorabilidade, inseguranças, defesas, contra o irredimível enfim. Não se sabe como tudo isso vai acabar e isso é o bom. Você não teme mais as surpresas da roleta da vida?

CT - Temer, a gente sempre teme... (risos...) Mas as surpresas também podem ser muito boas!

Obrigada Cristóvão, esperamos então suas próximas obras.

foto: by Susan (ver http://www.flickr.com/photos/83703492@N00/page2/)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

MÚSICA - HAJA O QUE HOUVER...



Ao contrário de La Montanara, que é cantada por uma pessoa desconhecida (eu), com pouca técnica (direto pelo laptop), com anos sem treino... esta música é cantada com técnica, em gravadora e por uma cantora profissional... voltarei a cantar! Pois quem canta seus males espanta! e preciso mesmo afastar certos "urubus" heeheh beijos a todos!
Já acreditei muito nesta música ... hoje sei que nem tudo eu consigo perdoar!

http://www.youtube.com/watch?v=KuO1z27l0D0&feature=related

domingo, 11 de outubro de 2009

FICÇÃO - MISSIVA



Rio de Janeiro, 2005. Hospedada em um hotel próximo ao Largo do Machado, passava os dias apreciando as praias, os centros culturais e a vida úmida carioca. Nestas andanças, flaneando entre livros e lembrando do poema de Apollinaire, compro um livro e vou direto ao quarto para ler. Folheando, encontro um envelope amarelado, abro e encontro um tesouro. O que segue é a transcrição da missiva que encontrei....





Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 1976.


Cara Clarice


Venho por meio desta lhe contar que de agora em diante a minha sorte vai mudar. Lembra que eu lhe contei, na última carta, que o Olímpico me abandonou? Mas acontesse que a Glória me dise de uma cartomante. Dis ela que vou descobrir qual é a estrela da minha vida! Eu ouvi na Rádio Relógio que esa tal de “astrologia” é batata!


Está marcado para depois de amanhã. Assim que eu voltar de lá, escrevo outra carta para vossê, contando as novidades. Mas eu sinto que minha hora chegou! Minha dor vai passar.


Concerteza ela vai dizer que serei uma estrela de cinema! Derrepente viro atriz.


Da sempre sua,


Macabéa


p.s. (acho tão lindo p.s.) O Rodrigo vai levar a minha carta para vosse, como sempre.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

CURIOSIDADE - EU TE AMO (em algumas línguas)


Africano - Ek het jou liefe

Albânio - Te dua
Alemão - Ich liebe dich
Alentejano - Gosto de ti, porra!
Amárico - Afekrishalehou
Árabe - Ana Behibak (para um homem)
Árabe - Ana Behibek (para uma mulher)
Bávaro - I mog di narrisch gern
Birmanês - Chit pa de
Boliviano - Qanta munani
Búlgaro - Obicham te
Cantonês - Moi oiy neya
Catalão - T'estim
Checo - Miluji te
Chinês - Ngo oi ney
Cingalês - Mama oyata adarei
Coreano - Tangsinul sarang ha yo
Corso - Ti tengu cara (para uma mulher)
Corso - Ti tengu caru (para um homem)
Croata - Ljubim te
Dinamarquês - Jeg elsker dig
Eslovaco - Lubim ta
Esloveno - Ljubim te
Espanhol - Te amo
Esperanto - Mi amas vin
Flamengo - Ik zie oe geerne
Filipino - Mahal ka ta
Finlandês - Mina rakastan sinua
Francês - Je t'aime
Francês Canadiano - Sh'teme (falado, tem este som)
Frisão - Ik hald fan dei
Gaélico - Tha gra agam ort
Grego - S'ayapo (diz-se s'agapo, a 3ª letra é a letra minúsculo 'gamma')
Grego antigo - Ego philo su
Gronelandês - Asavakit
Havaiano - Aloha i'a au oe
Hebreu - Ani ohev otach (para uma mulher)
Hebreu - Ani ohevet otcha (para um homem)
Holandês - Ik hou van jou
Húngaro - Szeretlek
Iídiche - Ich han dich lib
Indonésio - Saya cinta padamu
Inglês - I love you
Iraniano - Mahn doostaht doh-rahm
Irlandês - Taim i' ngra leat
Islandês - Eg elska thig
Italiano - Ti amo
Japonês - Kimi o ai shiteru
Javanês - Kulo tresno
Jugoslavo - Ya te volim
Klingon* - Qabang
Latim - Vos amo
Latim antigo - Ego amo te
Letão - Es milu tevi
Libanês - Bahibak
Lisboeta - Gramo-te bué, chavalinha
Lituanio - Tave myliu
Macedoniano - Sakam te
Madrileno - Me molas, tronca
Malaio - Saya cintakan mu
Mandarim - Wo ai ni
Mohawk - Konoronhkwa
Norueguês - Eg elskar deg
Panjabi - Mai taunu pyar karda
Paquistanês - Mujhe tumse muhabbat hai
Persa - Tora dost daram
Polaco - Kocham cie
Português (Portugal) – Amo-te
Portuense - Amo-te, carago!
Queniano** - Tye-mela'ne
Romano - Te iu besc
Russo - Ya tebya liubliu
Sergipano - Gostchu muintchu
Sérvio - Ljubim te
Servo-Croata - Volim te
Sioux - Techihhila
Sírio/Libanês - Bhebbek (para uma mulher)
Sírio/Libanês - Bhebbak (para um homem)
Sueco - Jag alskar dig
Suíço/Alemão - Ch'ha di ga'rn
Tagalo - Mahal kita
Tailandês - Khao raak thoe
Taitiano - Ua here vau ia oe
Tâmil - nan unnaik kathalikkinren
Télego - Neenu ninnu pra'mistu'nnanu
Tunisino - Ha eh bak
Turco - Seni seviyorum
Ucraniano - Ja tebe kokhaju
Vietnamita - Em yeu anh (para um homem)
Vietnamita - Anh yeu em (para uma mulher)
Vulcan* - Wani ra yana ro aisha
Zulu - Mena tanda wena


* - falada na série Star Trek


** - linguagem dos Elfos

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

FÁBULA DO PORCO-ESPINHO (gentilmente dado por minha amiga Cristina)






DURANTE A ERA GLACIAL, MUITOS ANIMAIS MORRIAM POR CAUSA DO FRIO.
OS PORCOS-ESPINHOS, PERCEBENDO A SITUAÇÃO, RESOLVERAM SE JUNTAR EM GRUPOS, ASSIM SE AGASALHAVAM E SE PROTEGIAM MUTUAMENTE. MAS OS ESPINHOS DE CADA UM FERIAM OS COMPANHEIROS MAIS PRÓXIMOS, JUSTAMENTE OS QUE OFERECIAM MAIS CALOR.
POR ISSO DECIDIRAM AFASTAR-SE UNS DOS OUTROS E VOLTARAM A MORRER CONGELADOS.
ENTÃO PRECISAVAM FAZER UMA ESCOLHA:
OU DESAPARECERIAM DA TERRA OU ACEITAVAM OS ESPINHOS DOS COMPANHEIROS.
COM SABEDORIA, DECIDIRAM VOLTAR A FICAR JUNTOS.
APRENDERAM ASSIM A CONVIVER COM AS PEQUENAS FERIDAS QUE A RELAÇÃO 
COM UMA PESSOA MUITO PRÓXIMA PODIACAUSAR, JÁ QUE O MAIS IMPORTANTE ERA O CALOR DO OUTRO.
E ASSIM SOBREVIVERAM!

MORAL DA HISTÓRIA:
O MELHOR RELACIONAMENTO NÃO É AQUELE QUE UNE PESSOAS PERFEITAS, MAS AQUELE ONDE CADA UM APRENDE A CONVIVER COM OS DEFEITOS DO OUTRO
E CONSEGUE ADMIRAR SUAS QUALIDADES.






"NINGUÉM PODERÁ FORJAR O AÇO SEM QUE O FERRO TENHA FICADO INCANDESCENTE. DO MESMO MODO, AS DIFICULDADES DA VIDA NÃO SÃO
FEITAS PARA NOS MAGOAR. TODO ABORRECIMENTO E DOENÇA CONTÉM UMA
LIÇÃO PARA NÓS. NOSSAS EXPERIÊNCIAS DOLOROSAS NÃO SÃO PARA NOS
DESTRUIR, MAS SIM PARA QUEIMAR AS NOSSAS IMPUREZAS, A FIM DE QUE A
NOSSA VOLTA AO LAR SEJA ABREVIADA. NINGUÉM ESTÁ MAIS ANSIOSO PELA
NOSSA LIBERTAÇÃO DO QUE DEUS."


PARAMAHANSA YOGANANDA, "A ETERNA BUSCA DO HOMEM"

FICÇÃO - PASSAGEM SÉPIA


Na penumbra do quarto fechado apenas destoa a réstia de sol que passa pela pequena abertura da cortina amarelada.


Nela, outra cortina se forma, feita de pequenos pontos de pó que voam e sobrevoam na luminosidade esmaecida do quarto banhado em sépia.


Na cama o doente apenas olha.


O fio da memória balança o olhar perdido, que busca no pó e no amontoado das caixas antigas das recordações, uma visão dessa cortina esvoaçante de pós da sua infância.


Mas é tarde, muito tarde.... Pelo canto dos olhos cansados passa o coelho branco... ele corre pelos corredores da vida... ainda vislumbra rapidamente o pedaço da saia azul e alguns fios dourados de Alice que segue o coelho... aproveitando as portas abertas de Barba Azul.


Tudo passa a ser espaço de luz âmbar em um tempo sépia.... mais e mais... até que... tudo o que restará do doente na cama será exatamente isso... uma foto, amarelecida pelo tempo, de uma criança lendo Alice.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

POEMA - sem título







Bem na ponta dos pés,


consegui tocar, com a ponta


de meus dedos,


uma estrela.


Ela explodiu tal qual bolha de sabão


e mil borboletinhas


como purpurina


esvoejaram reluzentes


sob meus olhos...






... e você me diz que


se apaixonou pelo brilho


do meu olhar!

FICÇÃO - A PEDRA MÁGICA


Conhecia-a. Conheci-a?


Sou uma pessoa que ao mesmo tempo que procuro me envolver com as pessoas, procuro manter distância delas ao menor sinal de “dependência”. Seja da minha parte, seja da delas.


Mas gosto e faço de tudo para ajudar as pessoas, mas isso por mero egoísmo, pelo pleno sentimento de me sentir bem. Ela era uma moça um pouco gorda, um pouco feia, um pouco inteligente. Essa visão plena de medianos me deixava desconfortada. Resolvi que iria ajudá-la.


Descobri que volta e meia ela faltava às aulas por causa de um problema de depressão, como era possível ela sair do mediano para ir para baixo, achei que poderia encontrar algo que a elevasse. Comprei uma pedra que me fascinou na casa de artesanato do Brasil. Uma pedra que tinha um brilho médio, uma cor indefinida (a expressão cor de burro quando foge nunca me foi tão apropriada), um tamanho entre grande e pequena, enfim, uma pedra mediana, mas com um certo quê irresistível. Algo que chamava a atenção ao repousarmos nosso olhar nela.


Um dia a encontrei na faculdade, triste, desacorçoada. Tirei a pedra do bolso com toda a majestosidade possível neste simples ato.


Dei a ela junto com uma história de um amigo meu que conheceu um índio norte-americano (creio que disse navajo, mas não me recordo mais) em suas andanças pelos Estados Unidos. Ela possuía uma vibração especial que elevava o espírito da pessoa. Ao carregar a pedra a pessoa se sentiria muito bem e feliz. Mas ao encontrar outra pessoa em pior estado, deveríamos doar a pedra a ela. Repassando assim esse “talismã” adiante, junto com a história. Meses depois reencontrei a moça. Ela estava feliz, satisfeita com a vida. Perguntei da pedra e ela me disse que já passou adiante, tendo o cuidado de presentear a história também.


Sei que menti. Deslavadamente menti. Mas aquele sentimento tão egoísta de felicidade me invadiu e não me importei com o fato de uma história falsa estar correndo por aí. Tantas falsidades existem. Que mal fará essa?


O meu único medo é que a moça, ao ler isto, venha me cobrar e retire esse sentimento egoísta de felicidade que tenho. A única coisa que tenho, pois a pedra... esta eu já dei.

POEMA - PEQUENO MUNDO DE AMOR


Olá Pessoal
este poema que fiz é antigo, mas tão válido aos dias de hoje...
beijos!



PEQUENO MUNDO DE AMOR.






No princípio era o beijo


doce e profundo




               logo após o perdigoto veio


               no bafo um pouco imundo






                                       Por fim, o cuspe no seio,


                                       acabando com o mundo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

FICÇÃO - NEFELIBATA


Dúvida. Namoravam, mas ela ficava em dúvida sobre o que ele seria na vida dela. Tão indeciso, tão medroso, tão cheio de melindres e doenças (tanto reais quanto psicológicas). Ela estava disposta a permanecer ao lado dele, ajudando-o, compreendendo-o.


Mas pediu à sua Mãe, como sempre fazia quando estava em dúvida, que lhe mostrasse uma resposta de quem seria ele na sua vida.


Adormeceu, depois de um estado estranho de duermevela... sonhou que estava em pé em uma ponte de madeira, com o corrimão de madeira. Observava o rio lindo que descia da montanha. Voltou-se, foi ao outro lado da ponte, observar a água que passava por baixo da ponte e continuava seu certo caminho.


No entanto ouviu um estrondo e quando se voltou novamente, viu que a água descia não mais em harmonia, mas com galhos, lama, pedras, sujeiras e muita força. Como uma tsunami doce. Percebeu que não daria tempo de correr até a saída da ponte. Resolveu pular o corrimão e se agarrar à ele para não ser levada pelo rio sujo e tenebroso.



A força do rio foi maior e ela caiu, quase se afogando, mas ainda presa com os dedos na ponte... aos poucos foi se arrastando, segurando na ponte, até chegar à margem. Então, exausta, quase sem fôlego, arrastou-se pela terra que se desmanchava. A cada torrão de terra que se desprendia com suas mãos ávidas por segurança, ela percebia que a terra ia se abrindo e ela foi subindo o terreno, abrindo brechas. De repente, destes buracos que se abriam, foi percebendo que saíam dados.


Dados grandes, que podiam ser abraçados por ela. Ficou feliz e começou a catar todos eles com imensa alegria.


Acordou.


Em sua ânsia de amor (ou paixão) por ele, interpretou o sonho como se eles fossem passar por momentos ruins, mas que depois entrariam em harmonia e sorte!


Porém, alguns dias depois, em plena lua de mel de namoro (estavam juntos só 3 meses) ele terminou com ela. Sim, foi uma sensação muito ruim, mas o pior foi ela descobrir que ele estava com outra ao mesmo tempo que estava com ela. Além da rejeição, a dor da traição! E PIOR, ao questioná-lo, ele negou tudo, chamando-a de neurótica!


Afundou-se. Perdeu o chão. Recebia e-mails maldosos da atual namorada dele.


Porém, em outra noite, sonhou que havia quebrado algo valioso. Logo - como era seu costume - catou com cuidado TODOS os cacos e tentou juntá-los. Consertar. Porém percebeu que não valia a pena. E acabou jogando fora todos os cacos.


Acordou.


Entendeu!


O tsunami sujo, os entulhos, a força destruidora, era ELE!


Mas ela conseguiu sobreviver a tudo isso e aprendeu a não mais juntar cacos... e sim buscar – com sua sorte – algo valioso e inteiro para ela!