novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......
convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

REAL-FICÇÃO - Protetor Curitibano.

Atenção, meliantes de Curitiba!
Agora Curitiba já tem um protetor.
Protero das matas, dos animais, das crianças e dos idosos!
Quem é ele?

Ele é o arqueiro com asas de borboleta! Chapéu de praia! Cuequinha. Camiseta de capoeira e colete de folhas.

Ele aparece de surpresa. Protege a todos que necessitam. E adora um dia lindo de sol.
Como ele mesmo diz: "que dia lindo pra fazer o que quiser".

Quem é ele?
O Ben 10?
Não!
O Ben 100?
Não!
O Ben bom!

Ele já apareceu por aqui no blog... dançando no Uruguai! (clique em cima que aparece o post).


(foto: Andréa Cordeiro)

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

REAL - Retrospectiva 2013

Iniciei bem o ano. Passei o ano novo junto com a mãe, irmã e cunhado, em um hotel em Foz do Iguaçu. Finalmente conheci as cataratas (que nunca havia visto). Recebi torpedo do corretor de imóveis confirmando que minha proposta em um apartamento deu certo (últimos dias de dezembro). Esperei o ano novo para dar a notícia para minha família.


Em fevereiro de 2013 tudo assinado e pago. Recebi as chaves.
Iniciei as reformas. Consegui me mudar em julho.
Em final de maio me aproximei de uma pessoa bacana. Em junho esta pessoa bacana se tornou mais que bacana. Uma relação muito gostosa iniciou. Em julho, quando me mudei, tive a companhia desta pessoa em minha primeira noite de apartamento novo.
Infelizmente, em agosto, por uma besteira (de ambas as partes), a relação acabou. Mas o sentimento de carinho permanece em mim. Estou tentando aprender a dar liberdade. A receber carinho.
Passei o resto do ano com atividades bacanas, com 3 projetos incríveis, com as aulas para os haitianos, 
com colaboração mínima ao Rondon. 

Visitei, com meus alunos, crianças carentes. 
Fizemos A FESTA literalmente.

Entrei para um grupo de fotógrafos que estou amando. 
Muitos passeios e viagens curtas. Muitas fotos.
Tive um renascimento em 27 de agosto. Redescobri uma Susan, estou eliminando outra Susan.
Estou fortalecendo laços de amizades boas. 
Eliminei outras “amizades”.
Estou me desapegando de coisas. Estou aprendendo a amar incondicionalmente. Estou aprendendo a  me doar mais.
PRECISO retomar raízes místicas.
Para 2014  SEI que vou realizar muito mais. QUASE concretizei um sonho de criança em 2013. Conheci uma pessoa que acreditei (ainda acredito) que pode me ajudar em uma ONG. Quando criança pequena - em um dos raros passeios de carro com a família - vi pessoas na rua. Meu pai me disse que eram sem teto, que não tinham casa. Eu pensei no dia (e este pensamento e sentimento estão bem fortes dentro de mim): “quando eu crescer, vou trabalhar e comprar casas para eles.” 
Simples assim... para uma criança é tudo tão fácil, não?
Quando trabalhei na ONG, achei que estava ajudando àqueles adolescentes a um dia poder comprar a casa própria, mas ainda não estava satisfeita. Quando conheci este arquiteto que queria fazer casas populares (e abrir uma ONG), achei que tinha conseguido um meio de realizar o meu sonho. Não deu certo em 2013. Mas ainda espero poder fazer esta parceria em 2014 ou 2015.
Juro que tentei, com a melhor das intenções, melhorar o mundo e a sociedade. Posso não ter feito da melhor forma (desculpe-me). 
Mas pelo menos tentei fazer algo. Não me omiti!
Enfim... o balanço geral de 2013 foi bom! Mas me esforçarei para fazer de 2014 um ano melhor. 
Com mais amor, com mais alegrias e com mais amizades!
Desejo a todos um Feliz Natal, e uma passagem de ano com MUITA reflexão!
(Texto: Susan Blum. Fotos - com exceção da última: Susan Blum)


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

REAL - Ada Macaggi - nome de rua?

Você já ouviu falar no nome Ada Macaggi?
Se mora em Curitiba, provavelmente já viu este nome em algum endereço. 
Mas então é só isso? Um nome de rua?
Não...
Ada Macaggi foi uma poeta. Das boas.. e paranaense (de Paranaguá). (Paranaguá29 de março de 1906 – Rio de Janeiro12 de novembro de 1947).
Ela foi professora, musicista e escritora. Seu livro, Ímpeto, foi ilustrado por ninguém menos que Anita Malfatti!
Quer mais?
Esta é a capa do livro.
Esta é uma das ilustrações do interior do livro Ímpeto.

Suas principais obras:

1927 - Vozes Efêmeras
1933 - Taça
1947 - Êxtase (poesia), Arco-Iris (romance), Sangue Rico (poesia) Ímpeto (contos e poesia)

Um poema dela:

Conselhos 
Se, num rito de dor, teu rosto se transmuda 
da expressão natural de impassibilidade, 
busca dissimular teu sofrimento, estuda 
o modo de ocultar tua infelicidade 
Não proclames a dor que o sorriso te muda 
em pranto ardente; não atendas à piedade 
dos que consolação procuram dar-te. Iluda 
a sua compaixão, tua força de vontade. 
Guarda contigo mesma as lágrimas, querida 
não as mostres jamais, contêm-nas, se possível 
e ostenta à hipocrisia um semblante impassível 
 Seja a glória maior que te exalte a vida, 
essa de seres sempre altiva e superior, 

mostrando ser feliz dentro da própria dor! (MACAGGI, 1953, p. 184)


Uma fala dela:
Ada Macaggi dedicava-se à poesia, bem como à discussão de temas polêmicos e característicos daquela época:

Ah! Sou uma decidida e enthusiasta adepta do modernismo. Não posso mais supportar o mofo da Arte academica – Arte capenga, Arte myope. Arte avariada em todos os sentidos, mimado por 
ankylosamento doloroso. Tenho a impressão, vendo estes esthetas muito symetricos e muito lustrosos, de estar olhando para um procissão, de pachydermes gravibundos...(...) sou pelo espírito 
moderno. “Quero também renovação ou morte”! Os moços têm o dever de clamar pela modernidade, isto é, por uma guerra accesa ao espírito academico, que é um tremendo silicio a Arte livre, a Arte – originalidade, a Arte talento. As Academias – velhacoutos de mediocridades de toda a especie, “albergues nocturnos” de invalidos mentaes de toda a ordem – fixam os canones de uma Arte official, como as religiões fixam seus dogmas ... Quem não observar os canones acadêmicos, como não cumprir os dogmas religiosos – é um herege, um medíocre, um louco, um mullo... Isso é odioso. (...) Precisamos reagir contra isso. Precisamos esfarelar os ídolos de barro. (...) E isso tudo é modernidade. (MACAGGI, Ada. Vozes Ephemeras. Gazeta do Povo, Curitiba, 8 nov. 1926, p. 3)

Naquela época existiam muitos recitais, coisa que deveríamos retornar. Vejam uma chamada:

Os recitais – intensamente frequentados por mulheres e jovens escritoras – tornavam-se um espaço de arte e talento, legitimando a feminilidade pertinente à sua sexualidade: “Ada Macaggi, a 
jovem, delicada e emocional poetisa, que dentro em breve nos dará o seu primeiro livro de versos “Vozes Ephemeras”, vai realizar no próximo dia 11 do corrente, no Theatro Guayra, 
o seu recital de declamação”. (Gazeta do Povo, Curitiba, 04 mar. de 1927 p. 5)
 
Enfim, só quis aqui homenagear uma poeta paranaense que quase ninguém ouviu falar, mas que teve sua relevância no cenário curitibano. 
Importante: há, na UEM, um Centro de Documentação de Literatura de Autoria Feminina Paranaense. Vejam mais emhttp://sites.uem.br/cedoc-lafep/letra-a


Quer saber mais sobre a literatura feminina no Paraná, nos anos 30? Veja em http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe3/Documentos/Individ/Eixo6/414.pdf

(todos os dados desta postagem foram retirados de vários sites da internet).

REAL - Dê um livro de presente - Literatura feita no Paraná

Parece que as pessoas acham que apenas o eixo Rio-São Paulo tem escritores bons... ou que apenas Dalton Trevisan, Cristóvão Tezza e Paulo Venturelli são bons autores do Paraná (lembremos que tanto Tezza quanto Venturelli não nasceram aqui hehe). Mas temos tantos outros escritores como Carlos Machado, Luiz Felipe Leprevost, Cezar Tridapalli, Sandrini, Guido Viaro, Otto Wink, etc (nem vou falar aqui porque, com certeza, vou cometer o pecado de não citar todos e tantos bons autores).

Então fiquei pensando em um jeito de promovermos os autores do Paraná. Afinal, há literatura feita por pessoas no Paraná!
Uma das formas seria criar uma campanha para que no Dia Nacional do Livro (29 de outubro) as pessoas deem um livro junto com uma flor. Seja para amigos, para conhecidos, para familiares ou até desconhecidos. Afinal, foi neste dia - e por isso é o dia Nacional do Livro - que a Real Biblioteca Portuguesa veio transferida para o Brasil, em 1810.
Mas temos também o dia 25 de julho que é o Dia Nacional do Escritor. Afinal, se não fossem eles, não teríamos o objeto LIVRO.
Ou ainda o dia 18 de abril, Dia Nacional do Livro Infantil (data de nascimento de Monteiro Lobato).
Mas daí pensei: e por que não em todas estas datas?
Afinal o número três é meio mágico e poderia perfeitamente criar um incentivo à leitura muito maior.

Assim, eu proponho que nos dias 18 de abril, 25 de julho e 29 de outubro (NÃO por fins comerciais) com fins culturais, educacionais e como incentivo aos nossos artistas paranaenses, todas as pessoas comprem livros e flores. 

Que todos possamos comprar ao menos UM livro de escritor(a) paranaense e que, junto com uma flor, alguém seja presenteado!
Caso você concorde com esta ideia, vamos compartilhar e divulgar.
Vamos fazer um jardim de contos e romances feitos por escritores do Paraná!

Um abraço a todos - desejando que esta campanha cresça e permita que mais escritores bons do Paraná sejam conhecidos e reconhecidos.
Ajude-me a fazer um pôr-do-sol mais belo e colorido pelo menos três vezes ao ano.
(foto: Susan Blum)

  Caso concorde com esta campanha e tenha ideias para colaborar, por favor, entre em contato comigo.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

REAL - Toda Letra - Crônica Pouso Leve

Pouso Leve                                                                                Para D.

Dia 11 deste mês, eu estava (um pouco após 07:30) no Terminal do Capão da Imbuia, na fila do Inter II. De repente uma borboleta veio de mansinho e pousou em meu casaco azul cobalto, quase na altura do meu peito. Percebi  que algumas pessoas nas filas ao lado repararam. Mas só vi isso pelo canto dos olhos, porque na verdade fiquei mirando, absorvida, aquele ser incrível que havia pousado em mim.
Era a primeira vez que uma borboleta pousava e permanecia tanto tempo. Ela abria e fechava suas asas e ali ficou até que finalmente chegou o ônibus. Eu não queria que ela fosse esmagada pelos inúmeros passageiros, então, para não assustá-la, coloquei de leve meu dedo indicador em suas patinhas, para que ela voasse.
Para minha surpresa ela subiu em meu dedo. Todas as patinhas grudadas por todo meu dedo.
E foi então que senti...
... ela vibrava. Uma vibração forte como se fosse de um coração.
Era como se eu tivesse um coração alado pulsando em meu dedo. E ali ficou.

Eu andando até a porta do ônibus, mexendo o dedo para cima e para baixo, de leve.
E ela pulsando.
Quando estava para entrar, levantei mais ainda o dedo e levemente assoprei.
Só então ela levantou voo e se foi. Mas confesso que o leve pouso e a forte pulsação permaneceram comigo pelo resto do dia.
Foi um dia leve, com um sorriso flanando em minha boca.
E assim eu queria a minha última crônica. A última crônica do ano: que fosse leve, pulsante, esperançosa, alegre, e que permanecesse com vocês, que me acompanharam durante este primeiro ano no Toda Letra.

Que 2014 possa nos trazer mais borboletas, mais levezas e mais surpresas boas como a que tive.
* Para completar o dia 11, ganhei da amiga Karmel um cristal lindíssimo. Mais leveza para o dia.



sábado, 14 de dezembro de 2013

REAL - Sou Heterossexual

Incrível a reação à postagem SOU HOMOSSEXUAL.
Eu já esperava um número maior de visualizações e de comentários diretos à mim. Mas não estava preparada ao que se passou.
Vamos pelo início:
Um aluno meu mandou uma mensagem pelo facebook comentando que finalmente havia se assumido para a mãe e que estava contente em saber que ela aceitou numa boa. 
Como eu já havia escutado diversos alunos comentando sobre as  dificuldades de se assumir homossexual (elas e eles), e como eu faço uma dinâmica todos os anos com os alunos (quem foi meu aluno lembra dos "Olhos Azuis"), eu tive a ideia de ME colocar nesta situação.
Claro que antes de colocar a postagem no blog eu fui conversar com minha mãe. Meus alunos sabem como sei ser uma boa atriz quando quero. Confesso que não foi fácil encontrar as palavras para dizer para ela. E confesso que fiquei realmente com receio da reação dela. Mas quando consegui dizer, ela me abraçou forte e disse: "filhinha... há quanto tempo você está sofrendo calada, filhinha? Meu Deus do céu. Eu te amo. Só quero que você seja feliz".  Óbvio que ela dizendo isso chorando, me fez chorar também. Mas fiquei aliviada (acho que sei como um homossexual que se declara para a mãe se sente). 
Só então contei da experiência que pretendia fazer. Ela gostou da ideia, tanto de eu sentir na pele, como para ver a reação das pessoas. E com tudo isso tentar fazer as pessoas refletirem sobre seus preconceitos. Mas também ficou preocupada (afinal, ela é mãe) que algo acontecesse comigo (seja no emprego, seja nas ruas).
Mas disse que me ajudaria, ou seja, caso alguém perguntasse para ela se era verdade e se ela sabia, ela confirmaria!
Então aguardei a repercussão pelo blog e face. Confesso que fiquei com receio, sim. Receio pelos novos conhecidos, receio de certas reações. Tive boas surpresas, tive surpresas desagradáveis. Dois "amigos" do FB me deletaram. Um deles me chamou de "bicha velha". Dois professores da Instituição onde trabalho fizeram comentários favoráveis, apoiando. Conversando com um deles sobre o "bicha velha", me disse rindo: "caramba! Duplo preconceito!"
Na verdade isso não me incomodou. Até foi bom, assim me pouparam o trabalho de deletar eles da minha vida. 
Dois "amigos" que viviam me "cantando" sumiram.
Eu esperava o apoio de outras pessoas e elas não me decepcionaram. Mãe, irmã e sobrinha me apoiaram. O resto da família ficou em silêncio. Não me perguntaram NADA. Não me disseram nada. E sabemos que o silêncio também é uma forma de manifestação. 
Eu já esperava o silêncio de algumas pessoas. Mas não imaginava que justamente isso seria o que mais me incomodaria: o silêncio.
Agora compreendo mais ainda o que dizem sobre preconceito passivo. Pessoas que diziam não ser, mas que agiram como preconceituosos ao não me apoiar.
Imaginem outra situação: digamos que você está abrindo seu coração para alguém e esta pessoa fica em silêncio. O que vc sentiria? Você está se abrindo totalmente, está vulnerável. Entenderam o exemplo? Você se declara, diz que ama a pessoa e ela fica olhando para vc em silêncio. Como vc se sentiria?
É algo horrível.
Assim, primeiro pedido que faço, caso algum amigo(a) seu(ua) se declare homossexual: apoie ou critique. Mas NÃO fique em silêncio.
Outras coisas que aconteceram: à medida que alguns amigos ou apenas conhecidos iam se manifestando a favor, me dando apoio, eu (para alguns) dizia inbox do se tratava. Um ou outro amigo se sentiu um pouco ofendido achando que eu estava "testando" a amizade. Juro que não foi esta a minha intenção (apesar de com certeza ter me mostrado quais são as pessoas com as quais posso contar nas dificuldades da vida, pois me aceitaram do jeito que sou). Peço desculpas aos que se sentiram ofendidos. Minha intenção com a postagem do SOU HOMOSSEXUAL era me colocar na pele do preconceito (realmente fazer um "Olhos Azuis" comigo mesma).
Confesso que por alguns momentos (logo após a postagem ou até pouco tempo atrás, eu pensei em confessar logo que não era homossexual), seja por pessoas que estava acabando de conhecer ou pelo silêncio que me incomodou. Mas daí refleti: se estou preocupada com o que os outros - que estão me conhecendo agora - vão pensar; isto não mostra o MEU preconceito?
Alguns me disseram... "ah.. mas se você não é homossexual, então é fácil de escrever um texto assim". Acham mesmo isso? Então os desafio a fazerem o mesmo. Postem no facebook que são homossexuais, sem contar a ninguém que não o são (como eu fiz) e vejam como é a reação das pessoas.
Enfim, peço, por favor, aos dois amigos que davam em cima de mim e que "fugiram", por favor, não voltem a me procurar. Peço aos que ficaram em silêncio: por favor, não venham dar desculpas. Sei que leram a postagem.
Aliás, esta foi uma das coisas que mais me espantou: o número de visualizações da postagem (como disse um amigo "tá certo que está bem escrito, mas o que será que fez com que tantas pessoas fossem ler?"). Acredito que o ser humano seja movido pela curiosidade, mas será que foi só curiosidade? Ou será que no fundo também teve um pouco da famosa "fofoca"? "Olha só, quem diria, a professora Susan". Ou será que o tema ainda é um tabu que provoca as pessoas? Enfim, coloco esta questão para que todos que leram e releram reflitam (caso desejem dar sugestões do porquê tanta visualização - quase mil até a data de hoje - favor colocar em comentários).
Fiquei satisfeita com o resultado em geral por vários motivos: consegui me colocar no lugar de um homossexual, pois vários me escreveram dizendo que é justamente assim que eles se sentem. Uma mulher madura que eu não conheço disse inbox que eu era muito mais "macho" que muitos homens por aí e que ela mesma só se assumiu para uma filha e genro, que mais ninguém sabia. Não a culpo. Infelizmente o mundo só PARECE preparado para esta normalidade. Mas não está. Consegui sentir (pelo menos um pouco) o preconceito, o medo, a dúvida, o receio.

Agora jogo uma dúvida para você, caro leitor: será que estou me "assumindo" agora como hetero porque realmente sou ou porque não aguentei a situação? 
Será que o fato de ter sofrido um preconceito (por mínimo que fosse), pois como disse um aluno (único que sabia de tudo isso pois foi ele que me fez escrever), "professora, os alunos gostam da senhora. Ninguém vai demonstrar o que está realmente pensando". Sim. É diferente por vários motivos: não tenho a cabeça de um adolescente, sou mais madura. Tenho uma vida pré-definida, "estabilizada". Tudo isso (se assumir) é MUITO mais difícil para os jovens. E muitos deles têm coragem de se assumir.
Uma pena. Algo que deveria ser visto com naturalidade (existe na Natureza diversos casos, não é uma doença - ouviu Feliciano? -  e nem antinatural) (repetições propositais).
E muitas pessoas ainda têm preconceito.  

Finalizando:
Agora você está se perguntando: "mas afinal de contas, ela é ou não é?"
Ora, o que interessa se sou mulher, branca, com 50 anos, se sou professora, escritora, se tenho ou não tenho alguém, se sou homo ou hetero? O que importa é que você saiba que sou um ser humano que ama e que quer ser amado (como todos). Se você tem dificuldades em lidar com esta dúvida... por favor, repense seu preconceito.
 Melhores frases que recebi pelo face:
"Eu acho que as nossas roupas deveriam ficar em araras espalhadas pela casa, sem esta de armário! Armário é baú, baú é túmulo!"
"Chocada, estarrecida: você tem 50 com esta carinha de 30?"
hehe obrigada a todos. Apenas peço aos que me escreveram dizendo: "apesar disso continuo sua amiga" - "mesmo assim continuo gostando de vc", que repensem a frase. Apesar de?? mesmo assim??  Como se fosse um problema ou uma doença?
Beijos para todos. Os que aceitaram, os que não aceitaram e os que ficaram em silêncio.

Por fim, descobri porque gosto tanto de Ganesha:

A história do Deus Ganesha
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 No hinduísmo, Ganesha é uma das mais conhecidas e veneradas representações de Deus. 

Ele é o primeiro filho de Shiva e Parvati e é considerado o mestre do intelecto e da sabedoria. É representado como uma divindade amarela ou vermelha, com uma grande barriga, quatro braços e a cabeça de elefante, com uma única presa, montado em um rato. 

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRL4rEzJYwgBq9ACNNkTvk6sVnHyiHqv5chpFuTccda6W0OuV1-8LpT7yGE7bT4Emd6Fj6hi3L7AuFdDnChdrPMcRYjXg0Q3W-eW7a614TouQfyUaQPan-u72ATu-7Py7o2Koy-Ib8N3Uj/s320/Ganesha+dance.jpg
Seu corpo é humano, enquanto  a cabeça é de um elefante; ao mesmo tempo, seu transporte (vahana) é um rato. Desta forma, Ganesha representa uma solução lógica para os problemas. É adorado junto a Lakshmi (a deusa da abundância) pelos mercadores e homens de negócio (A razão sendo a solução lógica para os problemas e a prosperidade).

Ganesha é conhecido também como o destruidor da vaidade, egoísmo e orgulho.


Ele representa o perfeito equilíbrio entre força e bondade, poder e beleza. Também simboliza as capacidades discriminativas que proveem a habilidade de perceber a distinção entre verdade e ilusão, o real e o irreal.


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

REAL - Crônica Toda Letra - Caridade

É estranho como as pessoas reagem de formas diferentes à caridade.
Aliás, que sei eu de caridade?
Na verdade nada. Percebi que o que vejo como “o mínimo a se fazer” é, para algumas pessoas, caridade. Percebi que certas coisas que faço por me sentir bem fazendo, outras pessoas veem como forma de se autopromover.
Para ser sincera, prefiro fazer as coisas porque acredito nelas e não para ouvir o que os outros têm a dizer sobre isso. Já aprendi que cada um pensa de acordo com o que tem no coração. Tive um namorado que dizia que eu era muito ingênua, que não percebia o quanto as pessoas me usavam. Sinceramente? Não percebia mesmo. E se me usaram, azar (ou sorte) delas.
Quem me acompanha no facebook vê que volta e meia divulgo as aulas para os haitianos (trabalho voluntário que faço), ou sobre o projeto FESTA (visita a orfanatos, asilos, lares, etc), ou sobre meus cursos gratuitos de contação de histórias (ou formadores de mediadores).  Nunca falaram diretamente para mim, mas um aluno me disse que ouviu alguém comentando que era autopromoção minha.
Meu pai sempre me ensinou a fazer o bem, e a fazer de forma quieta (que a mão direita faça sem a esquerda saber – era o que ele dizia – hoje penso nesta frase com outros sentidos esotéricos). E, sinceramente, o que faço na vida particular é coisa minha. Mas projetos ou cursos como estes eu divulgo sim. Primeiro porque quero que mais pessoas conheçam e possam participar. Segundo porque hoje vejo isso como divulgação necessária (as pessoas não sabem quanta coisa boa acontece no mundo, como tem gente bacana que faz algo pelo próximo sem pensar em recompensas financeiras ou outras). Precisam ver que o mundo não é só desgraça.
O estranho é que a maioria das pessoas que critica são justamente os que nada fazem para melhorar o mundo. Não dão sorrisos, só reclamam, só acham ruim das coisas que os outros fazem. Em nada contribuem de forma direta e concreta.
Outra coisa que aprendi dias atrás, em uma formatura de ex-alunos que me homenagearam: lá eu sentei na mesa de um dos alunos com sua família. E minha mãe disse que muitos familiares dele eram apresentados à ela como: “esta é a mãe da Susan. Ela fez uma sopa que a Susan levou quando minha esposa teve um acidente na boca e não podia fazer esforço e nem se alimentar de sólidos”. Uma simples sopa que minha mãe fez e que eu levei até a casa de meu ex-aluno ficou marcado na vida deles. Um gesto tão simples, tão inocente (algo que vi, na época, como uma necessidade de ajudar. Apenas isso.).
Ou seja, certas atitudes que temos ou tomamos muitas vezes ficam marcadas nas vidas das pessoas. E isso é real. Tenho em meu coração muitas atitudes bonitas que tiveram comigo. Um amigo que na época que eu tinha uma relação MUITO conturbada com meu pai, me pegava de carro em casa e ficava passeando de carro e conversando comigo. Meu irmão que ao saber que eu estava me separando, foi de carro até Joinville me buscar, sem eu saber – apareceu de surpresa e me “resgatou”. Um ex-namorado que era atencioso em demasia comigo, me dando muito carinho e sorrisos. Minha irmã que sempre está do meu lado quando preciso. Meu cunhado que já me escutou um monte, enquanto me dava carona para ir até a praia nos fins de semana. Enfim... tenho dezenas ou centenas de pequenos gestos e atitudes de pessoas para comigo. Guardo-os todos em meu coração e sei que o que vou levar da vida é justamente isso. Os pequenos gestos. Os detalhes.
Outro exemplo que de certa forma me “chocou” dias atrás. Achei um livro em minha biblioteca que percebi que seria interessante uma amiga ter. Procurei para comprar, mas o livro está esgotado. Procurei em sebos, mas não achei. Então comentei com ela que iria xerocar e dar o livro para ela. Ao que ela me respondeu: “as pessoas dizem que sou generosa, mas você é mais. Apenas me dê o xerox e já fico satisfeita”. Generosa? Eu? Só porque ia dar o livro para ela? Como eu disse: apenas percebi que ela faria um uso bem melhor que eu. Mas vou dar o xerox para ela hehe viu só como não sou tão generosa assim?
Por que tudo isso? Para que este texto? Simples. Cada dia é uma preciosidade na vida da gente. Saia. Sorria, Dê bom dia! Deixe seu mau-humor em casa, embaixo da cama ou, melhor ainda, jogue-o na privada e dê descarga. Porque ele só faz mal para você, para seus parentes, seus amigos, para a sociedade. Olhe nos olhos das pessoas. ESCUTE as pessoas. Observe a natureza ao seu redor. Ame. Independente de retorno do amor. Apenas ame. Mesmo que de longe (muito distante) continue a dar bom dia mentalmente para aquelas pessoas que você ama. Mesmo que não tenha retorno direto, tenha certeza de que este amor vai atingi-las de alguma forma.
Dias atrás fui à minha dentista e disse que estava naqueles dias em que a felicidade pulsava dentro de mim. Que eu via o dia como belo e tudo maravilhoso. E ela me disse: “ah. Você está no momento Poliana”.  Não. É diferente. Poliana é ser otimista, é ver o lado positivo das coisas. O que eu estava sentindo (e tenho sentido cada vez mais – ainda bem) é apenas amor. Um carinho grande pelas coisas, pelas pessoas, pelo sol, pássaros, pelo dia. Não sei dizer como é isso. Mas é uma sensação MUITO boa que espero que se repita muitas vezes. Não deixo de ver as coisas ruins que existem, como o taxista que atropelou a senhora e ainda postou nas redes sociais fazendo piada do fato. Apenas dou mais importância ao que sinto pelas pessoas e natureza... este sentimento de desejo de que todos fiquem bem, de carinho por todos.
Se isso é caridade? Não. Acho que não. Aliás, sou uma das pessoas mais egoístas que conheço, pois ao fazer algo pelo outro me sinto muito bem. Não escute o que os outros falam. Apenas faça o que sabe ser certo. Não por você, mas pelos outros. Viva e deixe viver. Gosto muito desse ditado. Tão verdadeiro!
Para concluir sobre a CARIDADE: nada do que eu disse que faço ou fiz, considero caridade. Quer saber o que acho que é caridade? Então leia o romance “Neve sobre os cedros”, de David Guterson. O que o rapaz faz é que é caridade, na minha opinião. Um amor totalmente desinteressado. Espero chegar lá algum dia.
Para finalizar a crônica do mês: Lembram que eu falei de detalhes? Então, geralmente passam despercebidos, pois estamos na correria do dia-a-dia, sempre com tempo atrasado e com tarefas cada vez maiores para realizar. Pare um pouco. Estique as pernas e os braços. Respire fundo. E coloque este som para ouvir com tranquilidade. Foi na correria do dia-a-dia que ele me chegou dias atrás (através de uma postagem de uma pessoa incrível: Larissa, da practice). E o encanto que senti perdura até hoje, e se fortalece toda vez que escuto de novo. Pois parece um coral de fadas que foi condensado em um simples inseto. Um inseto que sempre me fascinou (principalmente pelas histórias que eu ouvia de que ele era engaiolado e usado como de estimação no Oriente). Hoje me pergunto se eles sabiam da generosidade dele ao cantar para nós. Um grilo. Um detalhe quase insignificante diante da Natureza imensa ao nosso redor. E ele é capaz disso. Do que seremos capazes então?


 
Quem quiser saber mais dos projetos que coordeno ou participo, aqui vai:
Projeto FESTA - https://www.facebook.com/projetoafesta?fref=ts
visitas a lares e asilos, para levar alegria e conforto.
Projeto Ler traz estrelas - formar mediadores de leitura - contação de histórias.
Ambos os projetos apoiados pelo Instituto Positivo.
Ajudo (ainda de forma incipiente) no projeto Rondon e também dou aulas voluntárias de português para estrangeiros no CELIN, para os haitianos.


sábado, 30 de novembro de 2013

REAL - SOU HOMOSSEXUAL.

OK. Vamos lá. Época de confissões... Natal e Ano Novo sempre são boas datas para isso.
Sou homossexual. UFA! Após 50 anos vivendo de forma artificial posso finalmente tirar o fôlego do fundo do alvéolo mais profundo do pulmão e ex(pirar)clamar: SOU HOMOSSEXUAL.
Sei que isso vai chocar algumas pessoas que convivem há tempos comigo.  Alguns dirão: “Meu Deus, ela? Jamais imaginei!”. Outros com certeza se gabarão: “sempre desconfiei disso”, sem dar muitos detalhes do porquê dessa “desconfiança” (parênteses: desconfiar - não colocar confiança).
Sei que alguns “amigos” vão deixar de ter tempo para mim. Outros irão se aproximar mais (talvez por interesses outros?). Alguns familiares se sentirão desconfortáveis (será que me convidarão para o Natal?). Outros me darão apoio.
Se você é meu empregador e está lendo este texto pensando: “será que não seria melhor tirar ela da Universidade? Que influência nefasta ela pode ser aos alunos?” Por favor, repense seu preconceito.
Se você for uma amiga e estiver pensando ao ler o texto: “caramba, não conseguirei mais ser tão íntima dela depois disso. Tenho medo.” Por favor, repense seu preconceito.
Se você for um dos meus ex-namorados (poucos) ou meu ex-marido, e estiverem pensando: “puxa, aquela guria gostosa e querida, uma lésbica? Que desperdício” Por favor, repense seu preconceito. Ou se pensou: “nem comigo ela virou hetero? Eu que sou tão macho e másculo” Por favor, repense seu preconceito e sua vaidade.
Se você é uma das minhas alunas e pensa: “puxa, não sei mais se vou conseguir abraçar a professora”. Por favor, repense seu preconceito.
Se você é meu vizinho e está pensando em fazer uma reunião em casa com os outros vizinhos para alertarem sobre mim. Por favor, repense seu preconceito.
Se você é meu colega de trabalho que todo dia me abraça e dá um beijinho no rosto e está na dúvida se continuará fazendo isso. Por favor, repense seu preconceito.
Se você é meu colega de trabalho e teve relações comigo e agora está pensando: “que nojo... fiquei com uma lésbica”. Por favor, repense seu preconceito.
Se você é ou foi meu aluno em algum momento dos vários anos em que dei aula e está pensando em juntar os colegas para me dar uma surra em algum momento (para me “endireitar”). Por favor, repense seu preconceito.
Se você não é nenhuma das situações acima descritas, mas mesmo assim está incomodado(a) com meu texto. Por favor, repense seu preconceito.



Cada um tem o direito de ser o que quiser. Não é uma opção! A pessoa NÃO escolhe ser o que é. Ela apenas sente e É. Se você tem atração por homens e é mulher, é conceituado pela sociedade como heterossexual. Se você tem atração por homens e é homem, é conceituado pela sociedade como homossexual. Para mim, você é um ser humano que ama. O que interessa a você o que eu faço na vida privada?
Sou boa profissional? Cumpro com meus deveres de cidadã? Pago impostos? Trabalho? Não machuco (ou mato) nenhum ser? Então. O que importa é isso e somente isso. AMAR.
Todo cidadão tem direitos iguais. Não é o que diz a Lei?
Se as pessoas podem sair nas ruas de mãos dadas... dar beijinhos... TODOS podem!
Se não podemos fazer sexo em público... NINGUÉM pode.
Você não conseguiu chegar até o final deste texto porque ficou enjoado, com nojo, com raiva, desconcertado? Pena! Por favor, repense seu preconceito.
E assista a este vídeo.


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

FICÇÃO - A Bela e o Sapo

Era uma vez (ou duas, ou três) uma moça cuja beleza rivalizava com a riqueza. Ela tinha os dois em fartura. Mas vivia entediada, pois eram inúmeros os rapazes belos e ricos que a cortejavam. Ela tinha seus caprichos e um deles era a busca do amor verdadeiro. E isso significava - pelo menos para ela - que deveria amar alguém feio e pobre.
Porém, os rapazes feios e pobres não acreditavam no interesse real dela. E ela se entristecia.
O único lugar em que ela se refugiava e se sentia bem era na beira do lago, no Barigui. Tentando encontrar o jacaré, animal que - para ela - era feliz.
Todos os dias em que a moça ia até lá, encontrava um sapo que parecia a olhar com desejos. Seus olhos pidões, aguados, rumorejavam – era o que ela sentia – solicitações amorosas.

Com o tempo ela foi se apaixonando por aquela cor de pele tão diferente, aqueles caroços viscosos, aquelas membranas finas entre os dedos. Ia comparando com sua pele alva (tão comum), seus dedos finos e longos (que lhe pareciam agora como espinhos secos), com sua pele tão lisa e macia (argh). Em um gesto de rompante, ela agarrou o sapo e o levou para sua casa.

Mal entrou no lar, o sapo se pôs a falar:
- Agradeço, bela dama. Sou na verdade um belo herdeiro, de família tradicional curitibana. Um dia uma moça que foi por mim rejeitada conseguiu que uma mulher das artes mágicas me transformasse em sapo. Para dificultar a reversão da magia, ela lançou um feitiço de que eu não poderia falar com ninguém, a não ser que me recolhessem com carinho a algum lar. E agora posso falar e pedir que você me dê um beijo. Só assim posso retomar minha antiga forma: de um belo humano.

A moça o olhou com carinho. Mas ficou pensando. De novo cairia no mesmo problema: teria ao lado um rapaz rico e belo, com outras moças a desejá-lo. Decidiu: ficaria com ele para o resto da vida. Porém, sem nunca beijá-lo!
E assim foi. Até hoje a lua e o sol os encontram abraçados na cama... Moça e sapo, felizes para sempre!!
(Texto: Susan Blum. Imagens: retiradas da internet).

domingo, 27 de outubro de 2013

FICÇÃO - Metamorfose brasileira

Este conto está no meu livro Novelos Nada Exemplares.... mas como hoje é aniversário do "muso" do conto, eu posto aqui como homenagem.


Gregory Senter acordou um bicho-preguiça.
Lentamente, muito mais lentamente que o habitual, saiu da cama e percebeu que em vez de pés e mãos tinha garras enormes e seu corpo estava peludo. Depois de horas chegou até o banheiro (ao lado do quarto) e viu seu rosto peludo através de olhinhos pequenos.
Não sabia o que pensar, pois até seus pensamentos eram lentos, pareciam vozes em baixa rotação que chegavam de muito longe e até ouvir cada uma das palavras, já havia esquecido das primeiras... e assim não completava sequer uma frase.
Como se sentia muito cansado resolveu voltar para a cama.
Após longa viagem se deitou e fechou os pequenos olhinhos, a tempo de escutar sua mãe lhe dizendo: “Gregory, você vai chegar atrasado para a escola...”
Ela sabia que seu filho sempre se enrolava na cama e só levantava no último instante a tempo de comer algo, se arrumar e sair correndo para escola. Assim, deixou-o e foi arrumar a mesa. Gregory escutava seus irmãos se levantando, a cachorrinha correndo pela casa, sentia até seu rabo abanando e seus olhos acompanhando todo o movimento, como se também ela fosse para a escola. Um arrepio instintivo de bicho contra bicho levantou seus pêlos lentamente... até mesmo o arrepio era lento!
Percebeu, depois de muito tempo pensando, que lhe era agradável escutar a mãe falando seu nome... continuou pensando porque isso acontecia.
Sua mãe bateu na porta que ele trancava desde que começou a imaginar a Sandy com ele na cama e fazia “aquilo” que era tão gostoso, mas que parecia ser errado. Acostumada a não ouvir respostas de seu filho que sempre acabava se levantando e indo para o colégio ela só dava leves batidas na porta e continuava indo para lá e para cá, vendo como os gêmeos, que eram menores, estavam lidando com as roupas e mochilas de escola, perguntando se já escovaram os dentes, confirmando se os cabelos estavam penteados.
A filha, maior que Gregory, ainda se arrumava, pois tinha que pentear os cabelos várias vezes, colocar e tirar várias roupas, até se sentir satisfeita com a aparência. Se a mãe não ficasse em cima dela, se atrasariam para a aula.
Gregory escutou todos se arrumando, tomando o café e ouviu o barulho da porta se fechando, do carro sendo ligado e depois o ronronar do motor se distanciando. Estranhou que ninguém tivesse percebido sua ausência no carro. Mas na verdade quase ninguém percebia sua presença mesmo.
Passou o dia explorando o quarto, achou migalhas de biscoitos embaixo da cama. Viu a empregada que entrava com a chave extra, ela arrumava a cama, sacudia os cobertores na janela, passava uma vassoura rapidamente e ia para os outros quartos. Ouviu a família que voltava, aos poucos, desarticulados, para o almoço. O almoço nunca era com todos ao mesmo tempo, iam chegando e almoçavam. Geralmente Gregory era o último a chegar para o almoço e ficava com o que restou. Ninguém sentiu falta dele. Gregory foi diminuindo de tamanho durante todo o dia.
No dia seguinte sua mãe sequer bateu em sua porta. Gregory estava tão pequeno que podia passar por baixo da porta e ia para a cozinha pegar restos de comida antes que a empregada lavasse o chão. Geralmente ficavam ao lado da lixeira. Apenas tinha que tomar cuidado com a cachorrinha que tentava pegá-lo. Ela sempre foi uma exímia caçadora de baratas e ratos da casa.
Semanas passaram, Gregory geralmente ficava dentro do armário, pois era seu lugar favorito: o espaço interior do armário é íntimo e não abrimos o armário para qualquer um. A empregada quase não entrava no quarto, pois a cama estava sempre arrumada e muito menos abria o armário, principalmente agora, que não havia mais roupas a serem lavadas e guardadas como no início. Um dia um dos gêmeos achou o quarto vazio e Gregory, de dentro do armário, ouviu-o dizer: “Mãe, este quarto está vazio. Posso ficar com ele?” A mãe entra e Gregory a vê pela fresta da porta depois de tempos sem a ver. “Nossa! Um quarto vazio e vocês dois lá naquele quarto, apertados! Claro que pode se mudar para cá!”
Tempos depois, cansado de ficar se espreitando em cantos da casa, Gregory foi ao quarto da mãe e ficou esperando a oportunidade. A mãe tinha um porta-jóias sem chave. Era uma caixa de madeira com segredo e sua mãe dizia que nela estavam todas as coisas inesquecíveis. Conseguiu entrar na caixa em um dos raros dias em que a mãe a abriu. Acomodou-se entre os anéis e os brincos e passou o resto de sua vida entre as jóias da mãe. Bastava uma leve pressão secreta para abrir a caixa e libertá-lo. Mas ninguém a fez. O cofre tem muitos segredos para ser aberto aleatoriamente.