novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Textos e imagens - Vários





REAL - Pena de morte nele!

Radical = intransigente.
Ou seja, aquela pessoa que você tenta dialogar, mas que apenas repete chavões sem conseguir argumentar de formas diferentes. O que ela acredita é a verdade e sequer escuta o que você diz.
Conheço muitas pessoas assim, e, por incrível que possa parecer ficam gritando pelas redes sociais que devemos exterminar os extremistas. Será possível que não se leem?
Bom, mas o que quero contar aqui é outra história.

Ele vivia se arrastando por aí, destruindo tudo à sua frente. Era um ser asqueroso, que ninguém suportava (com raras exceções). Era um ser tão nojento e destrutivo que muitos queriam sua morte (alguns inclusive intentaram contra a sua vida).

Muitos diziam que um ser asqueroso deste que só destruía toda vida ao redor merecia pena de morte. Esmagar seres assim seria muito fácil. Afinal, ninguém sentiria falta desses seres destrutivos e horríveis.

Eu nunca fui a favor da pena de morte. Sempre acho que as pessoas podem sofrer verdadeiras mutações, transformando-se em seres maravilhosos. Percebi isto na ONG na qual trabalhei por alguns anos. Jovens que eram drogados, traficantes, transformando-se em sonhadores, fazendo faculdade, crescendo  e voando alto. MUITO alto.

Então, pense bem antes de esmagar qualquer lagarta.

Borboletas fazem falta no mundo!
(Texto e fotos: Susan Blum)

Texto e imagem - Sociopata


(Texto e imagem: Susan Blum)
Dentes maiores: dentes de onça brasileira (Amazonas). Dentes menores: meus

domingo, 11 de janeiro de 2015

REAL - Liberdade ou libertinagem de Expressão?

Gostaria muito de aproveitar um acontecimento triste para buscar uma reflexão. Principalmente porque vejo uma grande reação a favor da LIBERDADE DE EXPRESSÃO, sem ao menos parar para refletir o que é liberdade de expressão, o que é charge, o que é desrespeito; e se não deveríamos pensar a respeito desses assuntos.
CLARO que não sou  a favor do terrosismo ou de extremismos.
Mas, antes de colocar alguns pontos que considero importantes, vamos ver as  definições em dicionário de cada expressão e também refletir sobre o respeito ao próximo.

charge
n 1 carga explosiva. 2 cargo, ofício, dever. 3 custódia. he gave his daughter into my charge / ele me confiou sua filha. 4 pessoa ou coisa sob cuidados de alguém.5 Jur acusação formal. 6 encargo financeiro, ônus. 7 carga elétrica. • vt+vi 1carregar. 2 carregar arma de fogo ou bateria. 3 encarregar, confiar. I charged him with the solemn trust / confiei-lhe o assunto sério. 4 acusar, incriminar. he was charged with stealing / ele foi acusado de furto. 5 cobrar. he charged me 5 dollars for it / ele me cobrou 5 dólares por isto. 6 pôr preço a. 7 debitar. extra charge despesas extras. in charge interino. no charge / free of chargegrátis, gratuito. to be taken in charge ser preso. to charge for cobrar por, pôr na conta. to take charge of responsabilizar-se por.

Interessante! Charge como carga explosiva. 

Mas vamos guardar esta definição e pensar em algumas charges feitas. Analisar até que ponto esta explosão é válida? Por HUMOR?

Vamos ver agora a definição de Liberdade de Expressão:

O que é liberdade? Sempre fui ensinada pelo meu pai que minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro. Que isso seria respeito. Assim, piadas racistas iriam ferir a liberdade do outro de ser como é, e não deveriam ser feitas.
Mas isso aprendi com meu pai. Não é algo "dicionarizado". Então vamos ao termo:

Liberdade de expressão é o direito de manifestar livremente opiniões, ideias e pensamentos. É um conceito fundamental nas democracias modernas nas quais a censura não tem respaldo moral.


Sem respaldo moral. Assim, se uma charge incita o ódio, a raiva, a intolerância, como posso aceitar?

Lembram das caricaturas dos judeus como ratos no nazismo? Isto é liberdade de expressão? Ou fazer uma charge de negros como macacos?
Posso estar errada em escrever tudo isso... mas... peço reflexão.
O que é preconceito?

Preconceito é um juízo pré-concebido, que se manifesta numa atitude discriminatória, perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de comportamento.É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento sério.


Vejamos de novo.

Assim, me questiono se estamos promovendo uma liberdade de expressão ou uma libertinagem de expressão.

A libertinagem é um mau uso da liberdade de um indivíduo, é a extrapolação da liberdade, e quando isso acontece, os limites são ultrapassados e a integridade física, emocional ou psicológica de outra pessoa é posta em causa. A libertinagem leva a uma falta de respeito pelo próximo, e indica falta de dignidade e bom caráter.


Será que não está no momento de aprendermos a conviver com o diferente?

Será que não está na hora de revermos certos conceitos?
Enfim. Não estou achando que este texto mudará as pessoas. Mas espero que pelo menos parem para refletir.
E não. Não sou a favor de extremismos e de terrorismo. Mas sou a favor do respeito, do amor ao próximo e da liberdade de ação de cada um, de acordo com seus ideais, desde que não fira aos demais.

Ah. Uma última reflexão: será que os franceses, tão emotivos agora, também se importaram com a Argélia?
https://www.youtube.com/watch?v=PodBIU4Xs1E

Sinto muito pelas pessoas assassinadas (em todo e qualquer lugar, em toda e qualquer época).


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

FICÇÃO (querendo que seja SEMPRE ficção) - Lobo Mau.

"Chocolate amargo! Ela sempre gostou disso" Pensando com carinho na avó, com um sorriso doce na alma, deitou o chocolate ao lado das frutas na cesta.
Feliz, vestiu a capa de chuva e foi ao asilo.
Lá, apreensiva, caçou com o olhar a sua avó no jardim. Ficou satisfeita ao vê-la sorrir. Esperançosa, quase correu até ela.
- Mãezinha! Você veio me ver!
A esperança amarelou tanto quanto seu sorriso.
- Não, vovó. Não sou sua mãezinha. Sou sua netinha.
- Quietinha? - a velhinha parecia confusa.
- Não, vovó. NE-TI-NHA.
- Por que não escuto direito?
- É a idade, vovó. Veja: eu lhe trouxe seu chocolate favorito!
E deu um pedaço para ela que - feito criança - já enfiou na boca. Porém parecia mastigar um plástico.
- Por que não sinto o gosto?
- É a idade, vovó.
Com pena da senhorinha, a abraçou bem forte. A velhinha queria abraçar, mas não conseguia mover seus esquálidos braços doloridos.
- Por que não consigo abraçá-la?
- É a idade, vovó. Mas não liga não! O importante é que te amo, por tudo o que fez por mim.
As sobrancelhas delataram que ela tentava puxar os fios da memória. Mas eles, como teias, logo se rompiam.
- Quem é você?
- Sou sua netinha, vovó.
- Por que não consigo lembrar de você? - disse com lágrimas.
- É o Alzheimer, vovó.
- Quem? - perguntou a idosa mais confusa ainda.
- O lobo mau, vovó. O lobo mau.

(Texto: Susan Blum. Imagem: internet)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

FICÇÃO - Em volta

Este texto faz parte do livro Novelos Nada Exemplares. Insiro hoje pois sinto o coração pesado ao saber de senhoras de idade que passam o final de ano sozinhas. Ou que ficam em casa todos os dias de um ano inteiro, sem o convite de uma saída dos filhos já criados.
Lembro de ter visto uma vez uma história de uma senhorinha que morava com a família do filho e viu eles planejando uma ida à praia. Ela ficou bem empolgada, arrumando as malas, pensando no mar que há anos não via, e que nem conseguiu dormir de noite. Porém, no dia seguinte, de manhã cedo, ela viu todos arrumando o carro com as malas e a deixando na casa.

Nunca mais achei esta história.

Este conto "Em volta" foi escrito após a leitura de um conto de Cortázar.

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Casa cheia de crianças, este era o sonho.  Filha única, os pais trabalhando: sempre sozinha. Casou-se: sempre sozinha. Ainda conseguiu que o marido (fraca intervenção) lhe fizesse quatro filhos. Seu marido (fraca  atuação) abandonou o lar alguns anos depois para se ir com a moça mais nova. Aquela que não sonhava com filhos.
Sua vida transcorreu entre levar filhos para escola, para clínicas e hospitais, para casas de amiguinhos, ir trabalhar, fazer compras, remendar roupas, cuidar da casa e ensinar os filhos. Mesmo nos sonhos, de noite, estava cuidando, lavando, arrumando, levando os filhos para algum lugar. Pensava nos descansos dos fins de semana, mas os filhos a requisitavam para levá-los ao shopping, aos barzinhos, às casas dos novos amigos, novos namorados, ao cinema. Seus filhos sempre estavam à sua volta, sugando, dependendo.
Não levou nem um ano entre o casamento de um filho e a viagem de outro para os Estados Unidos. No ano seguinte, quando Junior foi fazer mestrado no Rio, a filha já tinha tudo planejado para fugir de casa com o rapaz que a mãe apenas tolerava.
Aposentou-se. Nenhum filho a visitava, ela descobriu que não tinha amigos pois não teve tempo para cultivá-los. Teve uma réstia de felicidade ao imaginar que agora poderia  descansar e ler seus livros que empoeiravam estantes. Nunca tivera tempo para eles.
Na semi-escuridão da sala, sentada na cadeira de balanço que finalmente pode usar, pousou o livro em seus joelhos artríticos, ao tomar consciência dolorosa da frase lida: "...onde há uma velha sentada num sofá, com uma casa vazia em volta".


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No livro Novelos Nada Exemplares há dois comentários, ao final do conto, de Icaro e Oraci. Mas não os colocarei aqui. Fica como curiosidade para lerem o livro.

Para fechar a reflexão, um vídeo. E que em 2015 possamos aprender a dar mais atenção aos idosos, convidando-os a passear de vez em quando. Viajar para a praia, sair um pouco, passear de carro...